domingo, 26 de outubro de 2014

AS VIDAS DE CHARLES

Charles Boyle sentou-se para tomar seu café da manhã, ainda com sono por mais uma noite mal dormida. Olhou para a xícara, ainda vazia e dirigiu o olhar para sua esposa, que já estava quase no final de seu desjejum. _ O café está lá, na garrafa em cima da bancada da pia! – disse ela com sua voz rouca e áspera, comum nas mulheres fumantes, cansadas da vida simples, limitada e sem perspectivas. Charles não se lembrava de quando esta frase começou a ser dita todos os dias mas mesmo já esperando ouvi-la, tentava em vão, mostrar a sua amarga esposa que ele gostaria que ela voltasse a servir o café para ele. _Não dormiu direito outra vez? – perguntou ela com seus cabelos sujos e despenteados e sua camisola de ban-lon rota na gola.
_Não. Faz tempo que não sei o que é dormir bem. Acho que estou ficando velho. Dizem até que quem não dorme bem acaba morrendo mais cedo. Talvez seja melhor assim. Sabe se a minha roupa que lavei ontem já secou? – perguntou ele.
_Com esta chuva fina? Acho que não. Se estiver úmida, você seca no ferro de passar. – disse ela levantando-se e indo até a pequena sala ligar a televisão e assistir ao programa de receitas e artesanatos.
Charles levantou-se e juntou as xícaras, facas e colheres e procurou um lugar na pia, ainda cheia com a louça da noite anterior. Começou a lavar toda a louça pois não suportava a ideia de chegar em casa à noite e encontrar mais louça a ser lavada. E Margareth sabia disso e deixava ele lavar. Charles contou até três para ouvir outra frase rotineira:_ Deixa aí que eu lavo mais tarde! Como Margareth havia antecipado, as roupas de Charles ainda estavam úmidas e com aquele cheiro característico de sabão em pó. Secou-as à ferro com cuidado, abstraindo-se do mundo real enquanto deixava liso o tecido rugoso de suas roupas úmidas.
No caminho até sua pequena loja de antiguidades, foi mais uma vez pensando no sonho da noite anterior. O que antes parecia ser como pequenos flashes a uns anos atrás era agora real. Ficava impressionado com a clareza de sua memória ao lembrar-se de cada detalhe. Era como se assistisse a um seriado de TV todas as noites. Cada noite um capítulo. Fazia frio naquela manhã de outono na pequena Lismore, no Condado de Waterford. De sua casa na Station Road até a Main Street onde ficava o antiquário, eram apenas 18 minutos de caminhada. A loja ficava ao lado do simpático The Rustic Café onde todos os dias tomava o tradicional chá no meio da tarde, hábito que adquiriu com seu avô. Evitava almoçar fora, e sempre levava consigo uma pequena marmita que aquecia na pequena cozinha nos fundos da loja. Mas às vezes, quando recebia algum comprador que necessitasse de um pouco mais de atenção para poder fechar um bom negócio ou algum marchand de obras de arte, almoçava no The Castle Lodge Restaurant bem em frente. E tinha boas razões para isso. Ao chegar todos os dias, encontrava a loja sempre limpa e arrumada, com as portas já abertas por seu funcionário Ronan que trabalhava a muitos e muitos anos com a família de Charles. Ronan vivia num pequeno apartamento aos fundos da loja, com apenas um quarto, sala, banheiro e uma pequena cozinha. Tinha problemas mentais, quase não falava, não tinha estudado e fora renegado por sua família por conta de sua deficiência. Mas Charles não sabia quando estes fatos aconteceram. O pai de Charles seguiu o caminho seu avô, permanecendo com Ronan. Depois da morte do pai de Charles, Ronan continuou a trabalhar na loja, servindo agora CLIQUE E COMPRE SEU LIVRO AGORA!

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