domingo, 16 de março de 2014

A BRINCADEIRA DO COPO.

Quem nunca ouviu falar sobre tábua ouija ou na chamada “brincadeira do copo”? Em minha juventude, por várias vezes reunia amigos para tentar falar com espíritos usando precários pedaços de papel cortados com as letras do alfabeto, e as palavras sim e não dispostas num círculo em volta de um copo de vidro, quase sempre de extrato de tomate, geleia ou requeijão. A verdadeira tábua Ouija era peça impossível de ser encontrada. Lembro de uma antiga livraria no Centro do Rio de Janeiro, mais precisamente no Edifício Avenida Central, que tinha várias à venda em suas vitrines. Lindas e caras peças. 

Fazer a brincadeira do copo era um momento quando tentávamos ser solenes, por entre risos nervosos e rezas tais como o Pai Nosso e a Ave Maria. Dávamos as mãos e rezávamos. Em seguida, virávamos o copo com a boca para baixo e, com os dedos sobre ele, fazíamos a esperada pergunta: _Tem alguém aí? A pergunta era repetida até que conseguíssemos fazer com que o copo fosse na direção da palavra sim. Quando isso acontecia, os olhares nervosos de todos ficavam fascinados. Afinal, o contato com o misterioso mundo espiritual estava aberto. As perguntas, por conta de nossa infante imaturidade, eram as mais tolas, tais como: _Você é homem? Mulher? De que país? – tentando criar um perfil do possível espírito. Nunca pude constatar algo que me indicasse total veracidade nos movimentos do copo. Como os dedos estavam sempre sobre ele, poderia haver uma inconsciente pressão exercida por algum participante, em busca de respostas às perguntas feitas. Mas, uma coisa posso afirmar: todas as vezes que ousei “brincar” desta maneira, o copo se movimentava com certo vigor, respondendo às perguntas feitas. Porém, nunca houve qualquer fenômeno durante ou depois de nossas sessões de contato espiritual. Ainda assim, ao final da “brincadeira”, levantávamos o copo, soprávamos, um de cada vez o seu interior e rezávamos juntos. Depois, quebrávamos o copo pois ninguém queria leva-lo para casa.

Um comentário:

  1. Ótimo...Mano Ricardo, não sabia destes detalhes fantasmagóricos, a pesar de ter freqüentado aquele apartamento...Quanto a retrospectiva da velha Delgado; sensacional. Tenho caminhado regularmente por estas ruas. Não sabes quanta nostalgia me bate ao passar pelos nºs 50, 51, 52, 58 e 60...Tantas lembranças!

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