Alma, alma, alma. O que somos sem nossas cascas. Alma, alma, alma. O éter que vaga pelas noites em busca de respostas. Alma, alma, alma. O que nos faz verter lágrimas quando a emoção nos atinge. Alma, alma, alma. Que nos dá a sensação do medo, da alegria, da tristeza. Alma, alma, alma. O que nos move em busca do que não conhecemos, levando-nos ao final cheios de pesados fardos para os quais não sabemos para que se prestam. Alma, alma, alma. Nos traz a dignidade e a vergonha. Nos dá a razão e a inconsistência. Alma, alma, alma, para que se alimenta de dores? Para que se alimenta de efêmeros prazeres? Para que experimenta diversos sentimentos? Alma, alma, alma, para que trazes para si outras almas que se encantam contigo, se decepcionam contigo, se apaixonam por ti e se desesperam por ti? Alma, alma, alma, para onde vai quando a carne se esvai na putrefata morte? Qual caminho segues com tudo aquilo que viveu? Alma, alma, alma, me responda antes que tome conta de mim e me carregue contigo pelas sendas do mistério. Alma, alma, alma, será que você volta? Será que não morre com meu corpo? Alma, alma, alma, que me pegou infante ainda no ventre e me carrega até hoje. Alma, alma, alma, que outras vidas viveu, que outros planetas percorreu. Alma, alma, alma. Será eterna? Quando será seu fim? Quando foi seu começo? Alma, alma, alma... será uma mentira? Uma invenção de conexões químicas do cérebro? Alma, alma, alma, me leve contigo em tua fantástica viagem pela eternidade, conhecendo o universo e a razão de tudo.
“Às vezes creio que personifico o inconsciente obscuro da raça humana. Sei que soa mal porém me encanta...” Vincent Price
domingo, 29 de março de 2015
Olho no Olho
Olho o olho que me olha no espelho. O meu olho. Tento ver
dentro dele aquilo que não vejo sem vê-lo no espelho. Não consigo achar nada no
olhar nem dentro do olho. Mas ele me olha e acho que vê mais do que vejo. Ele,
aquele que vejo no espelho, vê aquilo que os outros veem e que eu não consigo
ver. Mas, o que me importa? Tentar descobrir algo dentro daquele olho ou deixar
que o olhar que agora me olha não me diga nada além daquilo que nunca
descobrirei?
domingo, 15 de março de 2015
Pensamento.
Acho que o que acho, nunca ninguém achará. Às vezes acho que o que acham do que eu acho, já foi achado. Mas, acho que não.
Paul Richard Ugo.
Paul Richard Ugo.
segunda-feira, 2 de março de 2015
LAST DANCE
Acordei com o gosto amargo do Bourbon ainda presente na
saliva encorpada, tentando com apenas um dos olhos entreabertos, ver por entre
as grossas cortinas, se o sol já começou a subir no horizonte. Não. Ainda era
noite. As velas do candelabro ainda acesas, deram seus estalidos finais. O silêncio
do frio e da neve gelaram meus ossos. Impossível levantar. A cabeça pesava mais
que o planeta e o pequeno quarto girava em seu eixo. A cefaleia lancinante
chegava a adormecer minhas têmporas. Virei de lado e encarei os lindos olhos
verdes arregalados na minha direção. Observei que estavam um pouco embaçados,
frios e vazios. Quem seria esta mulher deitada ao meu lado? Jovem de pele clara,
percebi um filete de sangue ressecado sobre sua testa. A boca de lábios tenros
que se mostravam azulados, estava aberta como que querendo soltar uma palavra.
Com dificuldade, percebi seu corpo coberto por um lindo vestido de noite. Em
seu pescoço longo, percebi marcas arroxeadas. Senti arder o meu rosto e ao
tocá-lo encontrei com o tato de meus frios dedos, profundos arranhões que agora
ardiam como brasa. Tentei me sentar na cama, sem entender o que aconteceu e vi
garrafas quebradas pelo chão. Por entre os cacos, um pedaço de papel me chamou
a atenção. Abaixei para apanhá-lo e caí sobre os cacos, desequilibrado pela
tonteira. Mesmo sofrendo alguns cortes, me esforcei para levantar e tentar ler,
ao mesmo tempo que tentei conferir se estava realmente no quarto de minha casa.
Segurei numa das gavetas da cômoda e me apoiei para ficar de pé. A mão puxou o
pano brocado que decorava a cômoda que fazendo o candelabro cair com sua cera
quente sobre o meu rosto. O fogo se espalhou rápido por entre os cacos das
garrafas de Bourbon que ainda ensopavam os tapetes aos pés da cama. Com a luz
do fogo alto, pude ler o papel que agora se punha em chamas: Reisenweber’s Café
– Columbus Circle, 58th Street and 8th Avenue, Manhattan. Antes que a fumaça me
envolvesse totalmente até a morte, lembrei de Dora, a dançarina. Sim, era ela a
quem tanto desejei. Por que matei-a? Antes da resposta, a morte me alcançou.
Assinar:
Postagens (Atom)