quinta-feira, 3 de julho de 2014

O FADO DE ANTÔNIO

                                             
Antônio chegou cedo na Parreirinha de Alfama, no Beco do Espírito Santo. Não havia entendido o motivo de seu editor ter marcado uma reunião em um bairro boêmio e perigoso. Ao entrar na Parreirinha, leu num recorte de jornal com a programação da casa, a seguinte frase: “Não tenham medo da fama, de Alfama mal afamada, que a fama às vezes difama, gente boa, gente honrada”. É claro que a casa de fados era uma das melhores de Lisboa e teve sorte de ser o dia de apresentação de Argentina Santos dona do já famoso estabelecimento, e isto já serviu de alento. Escolheu uma mesa de onde estrategicamente, poderia ver quem entrava na casa e também assistir ao show. Pediu uma porção de linguadinhos fritos e uma jarra de vinho branco. Já passava das 9 horas e o editor da Bertrand não havia chegado. Antônio olhava para sua pasta de couro surrado que abrigava os originais de seu segundo livro e algumas outras anotações pessoais das quais guardavam enormes segredos. Aquilo era seu maior tesouro. O seu primeiro livro havia feito certo sucesso, tendo sido traduzido para o francês e para o inglês. Apesar de não ser o estilo que mais gostava, foi o que pode fazer, em se tratando de uma “obra encomendada”. Já este segundo livro era algo autoral, criado sem influências, vindo do que achava ser do fundo de sua alma. Tinha certeza de que seria um grande sucesso. Falava de amores, romances e os mistérios do coração. Argentina Santos iniciou o show, com seu repertório castiço dolorido, talvez por ter nascido na Mouraria e trazer as dores dos últimos mouros confinados por D. Afonso naquela região.  O repertório lindo, que trazia aos olhos as lágrimas das fontes termais de Al-Hamma, os deliciosos linguadinhos e as jarras de vinho branco fizeram com que Antônio esquecesse de seu compromisso, que até então não havia chegado. Talvez estivesse às voltas com a promoção de Vergílio Ferreira e seu bem sucedido livro A Aparição. Foi o grande sucesso deste 1959 tão sofrido para Antônio. Em seu íntimo, esperava ter o mesmo tratamento na editora. Para ler este e outros contos de Paul Richard Ugo, clique aqui! CLIQUE E COMPRE SEU EXEMPLAR AGORA!

4 comentários:

  1. Ótimo. Final imprevisível. Parabéns!

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  2. Obrigado amigo Jorge! Conto com sua divulgação!

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  3. Na minha singela opinião, um conto tem que ser surpreendente. Penso que conseguiu na perfeição, deixando ainda o leitor com água na boca. Podia muito bem ser o inicio de uma bela história sobre um verdadeiro serial killer. Muitos parabéns mais uma vez por conseguir agarrar-me aos seus textos, ainda para mais quando tão bem retrata um dos locais mais pitorescos do meu país. Muito sucesso e um abraço de além mar.

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  4. Penso em escrever outras histórias com o Antônio mas me faltam maiores informações sobre os bairros e costumes da Lisboa dos anos 1950. Tenho que pesquisar mais. E visitar mais Portugal!

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